Minha filha sempre foi muito corajosa, desde muito pequena. Nos parques de diversão ia nos brinquedos mais tensos - sozinha -, porque eu, o pai e os irmãos tínhamos todos nossos medos. Ela não! Ela sempre foi, e ainda é, toda coragem!! Há cerca de um ano e meio recebi uma ligação dela. - Mãe acho que te puxei!!! Quase morri. Estou toda roxa de uma queda de skate. Skate, mas você nunca andou de skate? Ela tinha 19 anos! Nunca tinha andado de skate - gostava de patins -, quando se juntou a uma gangue de cristãos que se reunia todo domingo no eixão do laser - em Brasília - pra andar de skate. Coisa abençoada!!! E lá foi ela com sua louca coragem. Subiu no skate do amigo e mandou bala. Não estava presente, mas conhecendo minha menina, pude e ainda hoje posso ver. Ela linda e esguia em cima do skate, agitando os cabelos pretos ao vento... quando na descida, imagino que a cerca de 70 Km/h - que o que dizem que o skate atinge naquela área - em descida livre -, ela se lembra de uma pergunta básica, que as pessoas corajosas e felizes e com o agravante de nascer com o sol em sagitário quase nunca se lembram de fazer, e grita: Como é que faz pra paraaaaarr?? Naturalmente, em tal alta velocidade ninguém nos escuta, e se escuta e responde, nós não escutamos... e seguimos ganhando velocidade e perdendo o controle da situação, até o desastre... Ela acha que me puxou porque de uns dois anos pra cá começei a pedalar, fazer trilha e me aventurar em coisas que eles - meus filhos - nem sonhavam em me ver fazer, mas que eu sempre sonhei fazer... mas essas coisas faço com cautela, talvez em função de meu corpo não ser mais jovenzinho - tenho medo de quebrar ossos, principalmente os meus!! Também tenho medo de ferir sentimentos - se eu me ferir gravemente, minha mãe e meus fihos vão sofrer... A minha filha decidiu, na pressão, saltar do skate. Precisava ver como ela se machucou!! Ralou as costas, bateu com o maxilar, ganhou um imenso coágulo de sangue em cima do osso da cadeira, do lado direito. Se fosse meu filho Guilherme, ele saberia o nome desse osso... eu não! Foram dias de anti-inflamátório, radiografia do maxilar - felizmente tudo certo - e pelo menos dois meses de implasto quente pra desfazer o coágulo...
No dia que ela me ligou, eu dei uma bronca de mãe nela: Peraí... eu não coloco minha vida em risco desse jeito não... Mãe é mãe... Eu sou mãe! Mas hoje, pensando sobre minhas atitudes e empolgações vida afora, concluo que raramente sei a hora de parar... e o skate ou ciclismo ou qualquer esporte mais radical não são as atividades mais perigosos da vida, e solto um grito silencioso: Mãe, me ensina a hora de parar!!!!