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quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Como é que faz pra parar????

Minha filha sempre foi muito corajosa, desde muito pequena. Nos parques de diversão ia nos brinquedos mais tensos - sozinha -, porque eu, o pai  e os irmãos tínhamos todos nossos medos. Ela não! Ela sempre foi, e ainda é, toda coragem!! Há cerca de um ano e meio recebi uma ligação dela. - Mãe acho que te puxei!!! Quase morri. Estou toda roxa de uma queda de skate. Skate, mas você nunca andou de skate? Ela tinha 19 anos! Nunca tinha andado de skate - gostava de patins -, quando se juntou a uma gangue de cristãos que se reunia todo domingo no eixão do laser - em Brasília -  pra andar de skate. Coisa abençoada!!! E lá foi ela com sua louca coragem. Subiu no skate do amigo  e mandou bala. Não estava presente, mas conhecendo minha menina, pude e ainda hoje posso ver. Ela linda e esguia em cima do skate, agitando os cabelos pretos ao vento... quando na descida, imagino que a cerca de 70 Km/h - que o que dizem que o skate atinge naquela área - em descida livre -, ela se lembra de uma pergunta básica, que as pessoas corajosas e felizes e com o agravante de nascer com o sol em sagitário quase nunca se lembram de fazer, e grita: Como é que faz pra paraaaaarr?? Naturalmente, em tal alta velocidade ninguém nos escuta, e se escuta e responde, nós não escutamos... e seguimos ganhando velocidade e perdendo o controle da situação, até o desastre... Ela acha que me puxou porque de uns dois anos pra cá começei a pedalar, fazer trilha e me aventurar em coisas que eles - meus filhos - nem sonhavam em me ver fazer, mas que eu sempre sonhei fazer... mas essas coisas faço com cautela, talvez em função de meu corpo não ser mais jovenzinho - tenho medo de quebrar ossos, principalmente os meus!! Também tenho medo de ferir sentimentos - se eu me ferir gravemente, minha mãe e meus fihos vão sofrer... A minha filha decidiu, na pressão, saltar do skate. Precisava ver como ela se machucou!! Ralou as costas, bateu com o maxilar, ganhou um imenso coágulo de sangue em cima do osso da cadeira, do lado direito. Se fosse meu filho Guilherme, ele saberia o nome desse osso... eu não! Foram dias de anti-inflamátório, radiografia do maxilar - felizmente tudo certo - e pelo menos dois meses de implasto quente pra desfazer o coágulo...
No dia que ela me ligou, eu dei uma bronca de mãe nela: Peraí... eu não coloco minha vida em risco desse jeito não... Mãe é mãe... Eu sou mãe! Mas hoje, pensando sobre minhas atitudes e empolgações vida afora, concluo que raramente sei a hora de parar... e o skate ou ciclismo ou qualquer esporte mais radical não são as atividades mais perigosos da vida, e solto um grito silencioso: Mãe, me ensina a hora de parar!!!!



terça-feira, 6 de novembro de 2012

Palavras e sentires

De repente as palavras assumem um sentido devastador, muito além da realidade visível, palpável e vivível Castelos inteiros se constroem de palavras e, quando tudo implode, as palavras são gritos desesperados e desesperadores e tornam o que conhecemos como realidade um estado de torpor e os ambientes adquirem um detestável cheiro de decadência. As coisas vão ficando fora de lugar.... A ditadura das palavras organizadas em construções paradisíacas, afrodisíacas... dionisíacas... As palavras ouvidas, escritas e sentidas vão perfurando toda a nossa pele e envolvendo todo o nosso corpo físico e espiritual. Algumas pessoas são mais vulneráveis às palavras... Todas soms em alguma medida são - sem medida - vulnerabilidade não se mede, por mais que se tente,  a palavra vulnerabilidade não se limita, não tem contornos definidos. Escrevemos ou falamos e fabricamos realidades, pensando identificá-las... Já que tudo é realidade e a realidade não passa de uma impressão... como na tal da Matrix... e já não se pode saber com clareza em que dimensão se vive ou sonha... Perturbador isso, ridículo,,, talvez, Confuso, como negar? Certamente complexo,,, É o tal poder das palavras!!!  E,  se pararmos pra pensar, nenhuma palavra tem contornos definidos e todos os seres dotados de palavras extrapolam de si de alguma forma ou se consomem  em si mesmos e tentam consumir o outro num desejos de calar e fazer calar palavras em plena expansão... A expansão das palavras chama-se sentido!! E os sentidos são construções individuais, em diálogo com o coletivo, mas individuais... por isso manipular e manufaturar castelos de palavras pode tornar-se uma coisa envolvente e enlouquecedora, um jogo meio insano - e aí vem a pergunta: o que é sanidade??  Não crer em nada; crer em tudo. Sanidade é apenas viver e ir aprendendo com a vida, para desaprender logo em seguida. E como não se vive só, mas têm-se o eu solitário sempre mediando as relações, vêm o medo, junto com o medo o desejo de poder sobre o outro... e ninguém tem poder sobre ninguém, a começar sobre si mesmo e suas palavras e os sentidos que se fazem e desfazem... Só o amor sentido, jamais pensado, sequer pronunciado nem escrito ou descrito pode assegurar a dádiva de partilhar palavras sentidas, vividas. As palavras inventadas e apregoadas são borboletas tontas que se chocam contra os faróis na estrada da vida, onde carros como trabalho, projetos, shows, protestos... manifestos futuristas... passam apressados, soltando sentidos pela culatra.... Então pensemos por exemplo na palavra amor - o que ela evoca? Suavidade, tempestade, complacência, perdão, fantasia, engano... por amor se vive e se morre, por amor escolhe-se apenas passar pela vida - sem amar! Paradoxal, não é!? Tudo é e não é, ao mesmo tempo... Precisamos escolher o sentido das palavras que nos habitam e nos invadem e com as quais pretendemos dominar o mundo - o nosso mundo, sem nunca alcançar êxito, mas sabendo que o êxito reside na tentativa que nos aproxima de nós, ao nos aproxima do outro...   E ha aquelas palavras que são como carícias que precisam sair da gente e alcançar o outro... porque se continuar dentro de nós, as palavras são capazes de nos corroer, e corroem...


Mas não tenho senão palavras, com que construo mundos, poemas e histórias, e agora elas podem ter o poder destruidor de uma bomba atômica...

Cuidado com as palavras, aprendi que talvez seja melhor sentir mais e falar bem menos, mas o diacho que acabamos precisando de palavras pra sentir....
Desculpe a confusão, mas o meu sentir é um caos... e duvido que o seu também não seja!!!




quarta-feira, 6 de junho de 2012

Re-flexão

Depois de tanto tempo sem escrever neste blog, volto... acerto espaços, corrijo deslizes ortográficos. Fico parada olhado pra versos que eu escrevi, momentos acontecidos. Os momentos acontecem... os versos expressam sentires destes momentos... não constroem, nem destroem nem perpetuam momentos... este ir e vir sobre os escritos são como nossos ires e virem às nossas lembranças - que fazem parte do que somos sem mais efetivamente existirem, como o surreal da poesia...

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Minha paisagem ao telefone

Anabe Lopes

De repente uma canção...
e a noite se faz dia e o que era
triste se fez leve e dança
nos salões iluminados da poesia!

De repente a vida é mais viva
e parece caminhar ao reinício
e a alma salta morros, várzeas
precipícios e passeia alegremente
sobre campos elísios

De repente sou de novo adolescente
quando me roça suave a voz o ouvido
fazendo levitar meu corpo e mente
remexendo e comovendo os meus sentidos

De repente posso ver a paisagem:
terra quente, mata verde, sol nascente,
no céu um arco iris colorido
e a espera faz-se leve e reluzente
uma viagem excitante ao seu umbigo.

Diáfana

Anabe Lopes


Chegam dias de absoluta desersão,
dias de estar no mundo sem no mundo estar.
Tudo é estranheza
e nada, ou quase nada, parece ter sido feito para nós.
Pesa o portão da antiga residência
E a vida se torna um chegar desejando partir.
Partir para onde?
As paredes da alma impregnadas de vazio...
as tardes se arrastam e nos afundam no chão
as noites são só silencio e saudade,
saudade não se sabe exatamente do quê,
embora se tenha vivido muito e intensamente...
...até o direito à saudade nos é negado
Há uma delicadeza frágil que nos compõe
e o corpo torna-se menor
e contornado de uma dormência
que é quase carne quase espírito...
E somos só crianças deitadas no escuro
em posição fetal
vendo nossos monstrinhos desfilarem e rirem de nós...
Desejamos ser tocados, abraçados, acariciados...
noite afora, noite adentro... no soprar das horas,
no frigir dos ventos...
eternidade afora, eternidade adentro...
E sabemos que não somos eternos
e que tudo  - e principalmente os sonhos bons - é muito breve!
E só por serem sonhos os sonhos são bons...
E um sonho é só um sonho
como a flor é só uma flor,
leve suave e breve...
E por si passam moscas e  borboletas...
e houve um dia e outro dia... e outro...
um beija-flor...
... e tantas noites escuras e frias...
e todo movimento é burburinho e silêncio...
Não fosse o brilho das manhãs,
a beleza das trilhas e caminhos
 e a magia do voo das borboletas,
a vida seria insuportável!!

quinta-feira, 8 de março de 2012

Sou mulher, com licença!!

Anabe Lopes

Eu  mordi o fruto proibido
E voltei à árvore varias vezes
Senti seu doce
Seus prazeres

Sou mulher e a mim
Negam-me o direito
De amar e ser um ser perfeito
Eu corro, ando, falo
Quase ninguém me escuta...

Eu passo horas ao espelho
E saio correndo,
Que o tempo é breve
E a vida é curta

 Eu mordi o fruto proibido
E voltei à árvore várias vezes
Senti a dor e o frenesi
De ser de mundos
Longe daqui

Estudo ciência e religião
Faço a história desta nação
E se lhe faço uma conferência
Não há espaço na sua agenda
Me dás no máximo, tua ciência...
Poucas palavras de complacência

Dirijo carro e caminhão
Olho o meu filho te dou a mão
E sempre me negas tua atenção
Queres de mim
Um corpo ardente
Mente vazia
Pele descrente...

Mordi o fruto proibido
E tu mordeste de enxerido
Tolo e covarde, não o fez primeiro,
E me apontas as minhas culpas
Nada tu fazes
Ficas na escuta
E fala grosso
E pisa fundo
Pensa que tem
A chave do mundo

Eu tenho asas
E tu a prendes
Durmo cansada
Te surpreendes
Quando desperto toda animada
Destroço amarras
Quebro correntes...

 Eu sou mulher
Sou diferente,
Mas sou igual
A toda gente
Não sou nem crente
Nem descrente
Eu aconteço!
Não planto o bem
Nem colho o mal
Apenas vivo, cresço e apareço!!

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Motivos

o que me faz chorar?
um medo
uma extensão reprimida
de mim mesma
por mim mesma
pela vida?


o que me faz tremer?
o medo
o desejo de ser
de ter
de expressar
a palavra presa
na garganta

o carinho contido
nas minhas frãgeis mãos
a visão guardada no olhar
que ainda não encontrou
a paisagem
a passagem
do ser que sou
ao ser que fui
ao ser deveria ter sido
e quiça
nunca serei?

o que me faz calar?
o medo da incompreensão
de florestas de palavras
que me habitam
da confusão de folhas secas
do meu chão
da profusão de sentimentos
do meu coração
da própria impotência
dos meus gestos
e das minhas palavras -
as que meu intelcto e minhas emoções
me permitem colher-
para expressar
o que apenas sinto
e, para que compreendas,
é preciso que estejas
atento para margeá-las
sem nunca entendê-las
mas, quem sabe, senti-las
com um pouco do meu
paladar pela vida
que me afunda em mim
e me leva a ti
e te traz a mim
e te pode levar...
pelos seus próprios caminhos
pelas suas próprias florestas...

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Vida

...pensei em voar
até sonhava
que nos meus passos
havia asas...

quis repousar
sonhos e planos
e o meu pesar....
faltou-me casa

não magoar
não causar danos
pensei mudar
de opinião
matar desejos
do coração...

seguir calada
a minha sina
e cabisbaixa
negar a rima
e tudo aquilo
que o dia ensina...

deixar que os anos
e os meus enganos
fossem levando
o que eu nao fui...

veja que  a alma
é soberana
mesmo calada
nunca se engana
e a mina d'água
um dia flui...

pensei em voar
e até sonhava...
e nos meus pés
havia asas!!!

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012


Este é um dos poemas mais lindos que eu já li em toda a minha vida. Ele simboliza a ligação espontânea e feliz entre duas pessoas que se encontram e decidem, explicita ou tacitamente, compartilhar suas vidas, seus corpos e sua alma. Um lindo poema-mito-pacto de amor!!! Um poema universal e atemporal, assim como o amor, que não pode ser classificado de antigo, moderno ou atual.

Conta Lin Yutang que este símbolo foi expresso por uma senhora chinesa de nome Kuan, esposa do grande pintorYüan Chao Mengfu, e também pintora e mestra na Corte Imperial. Quando maduro ambos e já ia arrefecendo o ardor de Chao, ou pelo menos já pensava em toma u’a amante, escreveu ela este poema, que penetrou o coração do marido e mudou-lhe as intenções:


“Há entre nós ambos
demasiada emoção.
tal é o motivo
Do que tem havido!
Toma um bocado de argila,
molha-a, amolga-a,
e faze uma imagem minha
e uma imagem tua.
Toma-as então, rempe-as
e adiciona-lhes um pouco de água.
Transforma-as de novo
em uma imagem tua
e uma imagem minha.
E então haverá na minha argila alguma coisa tua
e na tua argila alguma coisa minha.
E jamais coisa nenhuma nos há de separar
vivos, dormiremos na mesma cama
e, mortos, na mesma sepultura,”



...e não me acuse se ser romântica, eu não terei como nem porque me defender!!

 
Fonte: YTANG, Lin. A importância de viver. 2. ed. Globo, Porto Alegre, 1941 [tradução: Mário Quintana]

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Olhos de saruê: De onde surgem os poemas??

Olhos de saruê: De onde surgem os poemas??

De onde surgem os poemas??

penso que...


às vezes os poemas vêm com os acontecimentos,
quando é uma forma de sentir intensamente o que se vive
às vezes, eles vêm antes,
como uma inscrição gravada num vidro de perfume à toa...
podem expressar alegrias e pesares
ou profetizar acontecimentos
o tempo e o espaço da poesia não se limita ao autor e à sua localização
todos os poemas se lançam ao mundo...
em busca de eventos, seres e sentimentos que lhes dão sentido,
viajam pelo espaço mistico da existência!!

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Antes de começar o novo ano...

Antes de, efetivamente, começar o ano novo, o que eu preciso fazer??

No rastro dos dias
Ficam pelo caminho
Tarefas não realizadas,
Sonhos não vividos,
Palavras não ditas...
e "há tempo pra tudo embaixo do céu"