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Poemas de Carlos Drumond de Andrade

A palavra mágica
Carlos Drumond de Andrade

Certa palavra dorme na sombra
de um livro raro.
Como desencantá-la?
É a senha da vida
a senha do mundo.
Vou procurá-la.

Vou procurá-la a vida inteira
no mundo todo.
Se tarda o encontro, se não a encontro,
não desanimo,
procuro sempre.

Procuro sempre, e minha procura
ficará sendo
minha palavra.

Fonte: Carlos Drumond de Andrade. Poesia Completa. Nova Aguilar, 2002. (p.854)





A rosa é um jardim
Carlos Drumond de Andrade

A rosa é um jardim
concentrado
um clarim
de cor, anunciando
a alvorada fogosa
e o tempo iluminado.

Fonte: Carlos Drumond de Andrade. Poesia Completa. Nova Aguilar, 2002. (p.868)




Instante
Carlos Drumond de Andrade

Um poema engravidava a tarde
Era o dia nascendo, em vez da noite,
Perdia amor seu hálito covarde
e a vida, corcel rubro, dava um coice,

mas tão delicioso, que a ferida
no peito transtornado, aceso em festa,
acordava, gravura enlouquecida,
sobre o tempo sem caule, uma promessa.

A manhã sempre-sempre e dociastutos
eus caçadores a correr, e as presas
num feliz entregar-se, entre soluços.

E que mais, vida eterna, me planejas?
O que se desatou num só momento
não cabe no infinito, e é fuga e vento.

Fonte: Antologia Poética. Record, 2005.