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Imagem: claridade na janela. by Anabels |
Recebi, em meu e-mail, uma mensagem sobre lembranças e vivências que atestam que estou ficando velha. Aí me deu uma vontade danada de, enxergando-me nessas lembranças, registrar, antes de tudo pra mim mesma, minha relação com o meu mundo e as épocas em que vivi que, inevitavelmente, estende suas influências sobre o que sou e como vivo este meu Presente! Mas sem saudosismos, porque ouvi esta semana, e, logicamente, concordei, que “sou o que estou sendo agora. Não sou nem o que fui ontem; nem o que serei amanhã!!” precisamos dizer isso a nós mesmo todo o tempo, porque temos – os seres humanos – mania de chorar o passado e preparar o futuro, que quem sabe se haverá... sou o que estou sendo agora, e agora eu quero apenas ser feliz!!
Peguei uma carona naquele texto, de autor desconhecido, como tantos que navegam na internet, e fui tecendo meus próprios fios de memória, num exercício simples de diálogo entre mim o texto, sem muita disposição para enfeites e firulas. Te convido a entrar nessa conversa.
Fiz curso de datilografia. Graças a isso sou uma digitadora razoável, embora nunca tenha conseguido ser boa datilógrafa. Um segredinho: não sou boa em quase nada. É claro que a evolução tecnológica é uma maravilha!!
Adorada as provas com cheiro de álcool, recém-copiadas no mimeógrafo que, carinhosamente, era chamado de cachacinha – coisa boa! Assisti à evolução do mimeógrafo elétrico, cujos estêncils eram datilografados e as cópias eram produzidas com maior rapidez e melhor qualidade. Na época da impressora matricial eu era mãe em tempo integral. Hoje tudo tão a laser, tão rápido... tudo tão fugaz também... mas se tudo se vai tão rápido, tão rápidos vem o novo e envelhece... “envelheço na cidade”.
Não faltava à escola nem no dia do meu aniversário, e não me lembro de levar ovada, a não ser um ano na sétima série. Eu quase conseguia ser invisível.
Até hoje aumento o rádio quando toca Barão Vermelho, tenho um CD dos Engenheiros do Havaí, sou fá dos Paralamas e ainda ouço RPM. E o meu coração bate a altas revoluções por minuto. Meu sonho de consumo era uma caneta de 4 cores, com ou sem cheiro, mas tinha de ser ligeiro... Tudo é pra ontem, antes que o hoje seja o escabroso e desconhecido amanhã...
Hoje vejo o quanto era interessante ter uma caneta Bic de uma cor só que funcionava bem e escrevia até o fim. Eu nunca tive uma até acabar a tinta, mas invejava amigos que conseguiam manter uma caneta até o finalzinho!! Vi muitas vezes a Gretchen cantar Conga La Conga, o Ritchie cantar Menina Veneno. E em toda noite no meu quarto me entorpecia de amores platônicos que me ignoravam solenemente.
Não jogava Enduro e River Raid no Atari. Atari era coisa de rico, mas eu jogava Bito e Queimada e pulava corda. Sempre amei Michael Jackson, mas não dava, nem dou conta de fazer o break.
Também brincava de Estátua, Batata-quente, Pega-pega, Pique-esconde, Forca, Cabra-cega, Passa Anel; Boca de Forno, brinquei não, Amarelinha". Não sei o que é Boca de Forno e Casamento Atrás da Porta eu não sabia o que era, hoje posso até fazer uma ideia- hummm... parece bom, mas bem que podia chamar namoro atrás da porta, pegação atrás da porta... Talvez eu queira brincar hoje..."STOP" (Uésssstopê!!!)?
Não tive Melissinha. Botas sete léguas? Nunca tive não. Catina, nem sei o que é. Minha conguinha era azul. O dia em que ganhei o meu kichute era como se pisasse nas nuvens. Não prestava muita atenção ao Tênis Montreal, mas ouvia dizer que era o único antimicróbio – custava caro. Antimicróbio mesmo é água e sabão, já dizia a minha mãe. Meu calçado era mesmo uma xinelinha havaianas e, acreditem: NÃO SOLTAVA AS TIRAS!!
Comia "Lollo", antes de se chamar "Milkbar" e adorava a propaganda do Chokito, principalmente porque mostrava um avô bonzinho. Eu nunca tive um avô por perto... exeto o meu avô paterno que nos visitou em Fronteira MG um único dia e o meu avô materno que passou alguns meses em casa, mais eu já era grandinha e não deu tempo de sermos próximos a ponto de dividir um chokito!
Não colecionava papel de carta, nem colecionava nada. Tentei algumas vezes (biloca, tampinha, figurinha...) nunca fui assim tão organizada. Não usava pulseirinha de lã ou cordinha, achava meio bobinho aquilo. E não pulava elástico; achava bobo também e não tinha muito jeito pra coisa... além disso as meninas que pulavam elástico era metidas Sei nadinha de chuquinhas e de pano da Pakalolo (???). Minha vida sempre foi muito simples.
Meu gosto musical nunca foi tão ruim a ponto de suportar o Sidney Magal. Não me sentia à vontade dançando ao som de um Beto Barbosa. Isto sim era capaz de me fazer choraaaar..."? Gostava do Luis Gonzaga e da Elba Ramalho. Odiava o “Cabelo loiro vai á em casa passear...”
Uma vez minha tia me deu um brilho labial que o pote tinha forma de morango. Outra, a mesma tia me deu um brilho da Moranguinho. Este eu até comprei algumas vezes... e dava banho de abacate nos cabelos, pra ficarem mais brilhosos! Isso funciona!!!
Mascava chicletes Ping Pong, e o Ploc, de vez em quando. O Ploc amarelo e o Ping Pong era azul. Mas mastigava de boca fechada. Chupava bala Soft e engolia ela inteira tantas vezes! Cheguei a beber Crush e comia balas Xita, Sete Belo e adorava Zorro, mas o que era bom mesmo era o doce de leite na palha que comprava no Bar da Japonesa aos cinco ou seis aninhos, quando me enfurecia com o “cabelo loiro vai lá em casa passear”.
Eu não tinha muitos brinquedos. Somente quando meu pai trabalhava na Mendes Júnior e ganhava presentes de natal pra toda a meninada. Uma vez meu pai comprou pra mim uma bonequinha lindinha. O nome dela ela Lolinha. Foi um lindo premio de consolação em um dos momentos mais difíceis da minha vida, quando sofri de uma infecção na perna – anos depois diagnosticada como psuit – que me deixou sem andar uns 40 dias e por outros seis meses caxingando.
Eu não tinha estojo nenhum, exceto os que minha irmã e eu fazíamos de saquinho de leite, que também era nossas bolsinhas. A criatividade mora junto com a escassez, embora não tenha nenhuma aversão à fartura! Há indivíduos criativos em todas as camadas sócio-econômicas!
Mal tínhamos lápis e borrachas... Eu nunca tive relógio, quanto mais aquele com pulseiras de cores diferentes... mas eu era um Champion, por isso estou aqui!!!
Lia mesmo o Almanaque Fontoura, que ganhava de graça na farmácia. Me tornei fã do Jeca Tatu, principalmente depois que ele aprendeu a se cuidar, tomou vermífugo, calçou sapatos até nos porcos e galinhas, tomou muito Biotônico e tornou-se próspero e feliz!!! Depois gostei de assistir ao Sitio do Pica Pau Amarelo, mais ainda depois que meu irmão me contou que o pais do Jeca Tatu era o mesmo criador do Sítio, Monteiro Lobato!
Alguns coleguinhas tinham aquela régua que, ao bater no braço, se enroscava como uma pulseira, a Bate-Enrola. Achava interessante, mas não era infeliz por não ter uma.
Via pelas bodegas e farmácias os brincos de cartela, mas eu só fui furar minha orelha aos 19 anos. Algumas vezes usei brincos de pressão. Aquilo era um suplício!! Furei a orelha num ato simbólico, marcando uma nova fase da minha vida, tentando esquecer ou me diferenciar de mim mesma num instante em que fui o que não queria mais ser... mas já tinha pensado em furar a orelha antes. Tinha achado a desculpa ideal! Quase não uso brincos.
Conhecia meninas que dançavam Jazz, outras que faziam ginástica olímpica... eu sonhava tocar piano... ou qualquer outro instrumento. Hoje quero apenas tocar os corações, mas de vez em quando sonho em tocar um instrumento, ou quem sabe cantar em público. Eu canto todos os dias e gosto de uma frase do Nietzche que diz que “a vida sem a música seria um erro.
Polainas era coisa de meninos ricos. Ganhei um par dos filhos dos engenheiros de Furnas um dia... Meu filho caçula adorava polainas... polainas não, ele gostava de pantufas!... Ih confundi polainas com pantufas... Já ia me esquecendo do que são polainas, mas eu ganhei foi polainas mesmo. Ainda bem que existe o Google Images!! Era podre de chique!! Isso ainda deve ser usado no sul... Ganhei da minha tia um par de patins de prender nos tênis. Acho que minhas primas também não gostaram muito deles não!?
Tentei colecionar algumas minigarrafas de refrigerantes... e a minha mãe dizia mesmo que tinha veneno dentro, sei lá porque... as mães acreditavam que tinha veneno dentro mesmo e contavam histórias que ouviram contar que tinha gente, ou pingo de gente, que morria depois de ingerir o líquido!!!
Eu respondia aos Questionários das colegas!! Normalmente, em um caderno todo enfeitado. A última pergunta costumava ser: De quem você gosta? Eu não contava!! Desde cedo tive amores secretos e impossíveis. Gostava de deixar uma mensagem para a dona do caderno, mas sempre achava minhas mensagens superficiais... acredito mais no que digo e sinto quando um calor nasce dentro de mim e ma faz pensar. Também enfeitava meus cadernos, com florzinhas. Até hoje curto desenhar florzinhas. Acabei atrofiando meu talentos de desenhistas, já que só desenhava florzinha. Afora as florzinhas, desenhava uma ilha com três coqueiros, uma árvore e um pé de ... florzinhas.
Eu nunca tive walkman AM/FM amarelo à prova d'água. Minha mãe tinha oito filhos, o dinheiro mal dava pra comer!! Eu não tenho um CD do Biafra, mas gosto ainda do Sonho de Ícaro (voar voar subir subir...)! Me identifico com a personagem e sempre quero alcançar o sol – já consegui algumas vezes!!
Eu não usava biquínis "asa delta", eu mal ia ao Clube Primavera, com convites, e usava biquínis que eram quase shorts... meu bronzeador era coca cola, óleo de amêndoas e até óleo de avião...
É... eu estou ficando velha. Nasci aí nos idos de 1965! Não quero esquecer minhas lembranças nem lembrar-me delas; eu as sou. Sou ainda - e muito mais – o meu presente!!! E tudo que quero no futuro é poder ainda dizer, plagiando Neruda, “Confesso que vivi!”
Anabe Lopes
agosto/2011