Conheci no Recanto das Letras, onde escrevo de vez em quando, um jovem poeta. Acredito que tem a idade que diz que tem. Os poetas não são bons mentirosos. Escrevi ontem a seguite frase: Ouça as vozes da tua angústia! Aí ele gostou e comentou. Disse ter ficado sem palavras. Como a gente sempre faz no recanto, fui visitar a página de MICM. Senti uma vontade incontrolável de também comentar a frase dele que eu li. No título ele escreveu: "Porque odeio o amor", e a frase dele é: "quando amamos deixamos nossas vidas de lado e passamos a viver a vida do nosso amor". O jovem foi uma sensação! muitos e muitos comentários! Quiz responder a ele. Deu erro na página! Falar e escrever é mesmo um diabinho, ou anjinho, que sapeca dentro de nós. Se não dá pra ser num espaço, a gente corre pra outro. A vida também é assim, a menos que nos deixemos morrer... a Mercedes Sosa cantava: "Durar não es estar vivo, corazón..."
Queria falar com ele um pouquinho sobre a minha frase: "Ouça as vozes do tua angústia. " - assim mesmo sem preciosismos gramaticais.
Ouça as vozes da tua angústia. ... é que elas nos mostram que precisamos rever coisas [a palavra coisa é mesmo uma coisa] em nossas vidas. Nossas angústias dão aquele chacoalhão na gente, pra mostrar que tem algo muito errado e é preciso descobrir, resolver ou engolir e seguir adiante. Ela é o primeiro passo para o encontro com a gente mesmo. Não entender isso pode levar nossa alma ao desespero... e leva.
Não é muito fácil lidar com os nossos sentimentos. As angústias querem revelar nossos sentimentos mais secretos, aqueles que insistimos em não sentir, para não perturbar o nossa "estabilidade" ou não nos demover da nossa "desconfortável zona de conforto".
Angústia é também sentimento: sentimento de angústia. Pode ser a ponta do iceberg. Grandes e pequenas coisas que emergem do caos iluminado que é viver!
E quanto a frase do MICM E sobre o "ódio ao amor" ? Resolver nossas angústias de amor demora um pouco mais, principalmente se este amor nos faz " deixar nossas vidas de lado e passamos a viver a vida do nosso amor". Bem... essa não é bem a questão. A questão às vezes me parece estar mais nas doses de prazer e desprazer que isso pode nos proporcionar... não me venham com a história de "isso não é amor" - ninguem sabe exata e especificamente o que é amor...
Mas dá pra desconfiar: amar é nossa razão de viver; amar os amigos, amar pessoas que encontramos e nos fazem conhecer mais a nós mesmos, porque nos vemos pelos olhos delas ; amar a natureza (pássaros, sol, flores, borboletas... a vida emfim... mas o melhor e o mais desesperador é mesmo apaixonar-se. A paixão é esse amor com pressa de ser vivido, viver o outro e de viver-se no outro. Tudo misturado!
Saí agora pensando: tenho 44 anos, mas talvez saiba menos que MICM, que só tem tem 14. Embora se repita, a vida é sempre nova, se reinventa... - se e quando escolhemos viver, e não sermos vivido - como sugeriu Nietzsche. Escolhe-se a dor e o prazer de ser sempre uma adolescente aprendiz. Isso é viver intensamente. Alguns(muitos) escolhem tão somente durar e ser vivido, sem nunca ser ator da própria vida.
Todos os dias se repetem e nenhum dia é igual ao outro e eu.... "prefiro ser essa metamorfose ambulante" .
Gosto muito de me relacionar com pessoas bem mais jovens e bem mais velhas e constatar, de um jeito sempre igual e sempre diferente, que a nossa busca continua viva. E é a nossa busca que nos mantém vivos. Ao MICM peço que que continue a escrever - pela maneira como ele escreve, dá pra vê que ele também é bom leitor. Vou aprendendo com ele e com outras pessoas de todas as idades biológicas que a vida é isso... ninguém pode definir. A vida é pra sentir e viver e ir fazendo escolhas e construindo caminhos e que as angústias que parecem nos colocar a perder são a nossa voz inerior nos indicando que o caminho está errado; é preciso mudar a rota... Acho que é isso... Agora... Sei lá.... até hoje peço socorro pra minha mãe:
Mensagem para minha mãe
nada sei de viver, apenas sigo,
no caminho há flores,
há pedras,
há muitos espinhos
sem seus cuidados, meus
meus cabelos desgrenhados perde o ouro
e minha língua d’entre o doiro e o minho vinda
ensaia o verso no Rio Grande submerso
já não me penteias
nem mais penteio a minha filha
e de coração assim tão cansado
sou tantas vezes náufrago
sozinho em minha ilha.
Aos meu poucos e queridíssemos leitores, que não me acusem de incoerência, que "não me acusem de ser irracional, pois a "...vida é tão confusa quanto a América Central"
Um grande, muito grande, abraço!! Um abraço com a minha alma!!
Vistem o MICM no Recanto das Letras: http://recantodasletras.uol.com.br/autores/micm
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