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sábado, 28 de agosto de 2010

Mormaço

Há este mistério aberto
existência a ferir a vida
assusta, mais o que já conheço
e de que não posso fugir,
o caminho marcado
que  leva a nenhum lugar

Há o caçador à espreita
da caça escassa

A harmonia natural rompida,
não definitivamente...

Tudo se renova, a cada instante,
estampa o tempo intrínseca dinâmica
na escola de dentro não há planos de aula,
os mestres sabem calar-se

Há que se subeverter a cegueira:
dar à alma olhos.
inplodir o sectarismo
e olhar o outro: espelho.

Separar o que está confundido
religar o que está separado
mentiras e verdades, todas relativas.

O mundo é estranho e atrativo
nossa incompletude nos plenifica
meu corpo acolhe exala a tua minha essência
nos renovamos nesse movimento.

O "olho de carne" vidrado pelo espírito
O "olho da razão" se mistifica
O "olho da contemplação" subverte cadafalsos olhares.

domingo, 15 de agosto de 2010

Magda Soares, Metamemória-memórias

Vamos bordando a nossa vida, sem conhecer por inteiro o risco; representamos o nosso papel, sem conhecer por inteiro a peça. De vez em quando, voltamos a olhar para o bordado já feito e sob ele desvendamos o risco desconhecido; ou para as cenas já representadas, e lemos o texto, antes ignorado. E é então que se pode escrever - como agora faço - a "história"...



Magda Soares, Metamemória-memórias

Re-encanto

Vejo que perdi o tempo
e, de repente, aqui
parada embalada no tempo...
outro tempo
Quantas pessoas é o tempo?
Um tempo só vai e vem?
Um tempo vai e outro vem?

O tempo será sempre este mistério...


Olho ao redor e estendo as mãos:
é preciso segurar as horas
segurar-se nas horas...

No meio deste amplo salão
foi-me dado um espaço para agir
O tempo será, farto em si, me será sempre insuficiente
Tenho desejos do voo com que sonhei na infância,
é preciso explorar os espaços e, então, alçar voo


Os meus olhos vêem o céu pela vidraça
Flores balançam ao vento, bem nas pontinhas dos galhos,
corajosamente

O anjo me disse que posso voar
Hoje descobri que, para voar,
é preciso reconhecer minhas raízes

Estou certa de que os pássaros, pequeninos,
sabemos partilhar do poder divino de explorar espaços
e compor os céus, que compões pássaros - o céu acolhe o tempo

Desconfio que os pássaros conheçam sua natureza e suas raízes
Apropriar-me de mim me dará asas.
 
 
Anabe Lopes

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Amor e poesia e aprendizado, não tem idade!!

Conheci no Recanto das Letras, onde escrevo de vez em quando, um jovem poeta. Acredito que tem a idade que diz que tem. Os poetas não são bons mentirosos. Escrevi ontem a seguite frase: Ouça as vozes da tua angústia! Aí ele gostou e comentou. Disse ter ficado sem palavras. Como a gente sempre faz no recanto, fui visitar a página de  MICM. Senti uma vontade incontrolável de também comentar a frase dele que eu li. No título ele escreveu: "Porque odeio o amor", e a frase dele é:  "quando amamos deixamos nossas vidas de lado e passamos a viver a vida do nosso amor". O jovem foi uma sensação! muitos e muitos comentários! Quiz responder a ele. Deu erro na página! Falar e escrever é mesmo um diabinho, ou anjinho, que sapeca dentro de nós. Se não dá pra ser num espaço, a gente corre pra outro. A vida também é assim, a menos que nos deixemos morrer... a Mercedes Sosa cantava: "Durar não es estar vivo, corazón..."
Queria falar com ele um pouquinho sobre a  minha frase: "Ouça as vozes do tua angústia. " - assim mesmo sem preciosismos gramaticais.
Ouça as vozes da tua angústia. ... é que elas nos mostram que precisamos rever coisas [a palavra coisa é mesmo uma coisa] em nossas vidas. Nossas angústias dão aquele chacoalhão na gente, pra mostrar que tem algo muito errado e é preciso descobrir, resolver ou engolir e seguir adiante. Ela é o primeiro passo para o encontro com a gente mesmo. Não entender isso pode levar nossa alma ao desespero... e leva.
Não é muito fácil lidar com os nossos sentimentos. As angústias querem revelar nossos sentimentos mais secretos, aqueles que insistimos em não sentir, para não perturbar o nossa "estabilidade" ou não nos demover da nossa "desconfortável zona de conforto".
Angústia é também sentimento: sentimento de angústia. Pode ser a ponta do iceberg. Grandes e pequenas coisas que emergem do caos iluminado que é viver!
E quanto a frase do MICM E sobre o "ódio ao amor" ? Resolver nossas angústias de amor demora um pouco mais, principalmente se este amor nos faz " deixar nossas vidas de lado e passamos a viver a vida do nosso amor".  Bem... essa não é bem a questão. A questão às vezes me parece estar mais  nas doses de prazer e desprazer que isso pode nos proporcionar... não me venham com a história de "isso não é amor" - ninguem sabe exata e especificamente o que é amor...
Mas dá pra desconfiar: amar é nossa razão de viver; amar os amigos, amar pessoas que encontramos e nos fazem conhecer mais a nós mesmos, porque nos vemos pelos olhos delas ; amar a natureza (pássaros, sol, flores, borboletas...  a vida emfim... mas o melhor e o mais desesperador é mesmo apaixonar-se. A paixão é esse amor com pressa de ser vivido, viver o outro e de viver-se no outro. Tudo misturado!
Saí agora pensando: tenho 44 anos, mas talvez saiba menos que MICM, que só tem tem 14. Embora se repita, a vida é sempre nova, se reinventa...  - se e quando escolhemos viver, e não sermos vivido - como sugeriu Nietzsche. Escolhe-se a dor e o prazer de ser sempre uma adolescente aprendiz. Isso é viver intensamente. Alguns(muitos) escolhem tão somente durar e ser vivido, sem nunca ser ator da própria vida.
Todos os dias se repetem e nenhum dia é igual ao outro e eu.... "prefiro ser essa metamorfose ambulante" .
Gosto muito de me relacionar com pessoas bem mais jovens e bem mais velhas e constatar, de um jeito sempre igual e sempre diferente, que a nossa busca continua viva. E é a nossa busca que nos mantém vivos. Ao MICM peço que que continue a escrever - pela maneira como ele escreve, dá pra vê que ele também é bom leitor. Vou aprendendo com ele e com outras pessoas de todas as idades biológicas que a vida é isso... ninguém pode definir. A vida é pra sentir e viver e ir fazendo escolhas e construindo caminhos e que as angústias que parecem nos colocar a perder são a nossa voz inerior nos indicando que o caminho está errado; é preciso mudar a rota... Acho que é isso... Agora... Sei lá.... até hoje peço socorro pra minha mãe:


Mensagem para minha mãe

nada sei de viver, apenas sigo,
no caminho há flores,
há pedras,
há muitos espinhos

sem seus cuidados, meus
meus cabelos desgrenhados perde o ouro
e minha língua d’entre o doiro e o minho vinda
ensaia o verso no Rio Grande submerso

já não me penteias
nem mais penteio a minha filha
e de coração assim tão cansado
sou tantas vezes náufrago
sozinho em minha ilha.

Aos meu poucos e queridíssemos leitores, que não me acusem de incoerência, que "não me acusem de ser irracional, pois a "...vida é tão confusa quanto a América Central"

Um grande, muito grande, abraço!! Um abraço com a minha alma!!

Vistem o MICM no Recanto das Letras: http://recantodasletras.uol.com.br/autores/micm

domingo, 1 de agosto de 2010

Sobre pássaros e ipês...

Hoje acordei pela manhã re-encantada em viver no Planalto Central. Ouvi cantar sabiás e era como se cantassem canções que eu já sabia, mas que andavam esquecidas. Pensei ipês. Escrevi um poema.




Celebração 1º/8/2010 - by Anabe Lopes
Já se foi o mês de julho

E, com gosto, o tempo nos tráz

O mês de agosto.


Um tanto a contragosto

Mai um ano vai me deixando pra traz

Abro os meus braços
A este novo tempo no tempo
O sol matiza o azul de fios de luz
Entrelaçados de cantos pássaros



Da minha alma ecoa um convite:

Vem ver Brasília
Ipê e pássaro amarelos 1º8/2010 - by Anabe Lopes


Vem ver que o céu azul


E a intrépida aridez


Vem florindo amarelos ipês


CELEBRAÇÃO