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segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Ilações de sagitário

Anabe Lopes

 veja a imagem na fonte
            ...diz a wikpedia que Quiron, na mitologia grega, era um centauro considerado superior por seus próprios pares e aos seus pares.

Ao contrário do resto dos centauros, que eram notórios bebedores, indisciplinados, delinqüentes, sem cultura e propensos à violência quando bêbados,  Quíron era inteligente, civilizado e bondoso, culto e tinha habilidade com a medicina.  Toda essa coleção de virtudes explica-se por um antigo mito, segundo o qual, Quiron, filho de Cronos com a ninfa Filira – os demais centauros seriam fruto da união entre o rei Ixion, este permanentemente atado a um disco de fogo no Tártaro, e Nefele ("nuvem"), que Zeus – o poderoso chefão – teria criado à forma e semelhança de Hera, sua poderosa esposa.

Abandonado, Quíron foi encontrado e criado, como filho adotivo, por Apolo –  o deus da beleza, da perfeição, da harmonia do equilíbrio e da razão, ou seja o Cara!  Por isso Quiron manjava de artes, música, poesia, ética, filosofia, artes divinatória, ética, filosofia e profecias, além de terapias curativas e ciência – enfim Quiron era o que se pode chamar de fodão. Casou-se com uma ninfa. Teve seis filhas e um filho,  Caristo, grande curandeiro, astrólogo e um respeitado oráculo – das filhas nada se conta – o mundo – mesmo o mitólógico – foi e é sempre propenso a ser injusto com as mulheres.

Quíron era também altamente reverenciado como professor e tutor. Entre seus pupilos estiveream diversos heróis, como Ajax, Enéas, Teseu, Aquiles, Jasão, Héracles, Oileu, Fênix  – só pra citar os mais conhecidos – e, em algumas versões até o próprio Dionísio, o Baco da mitologia romana (o das festas e do vinho).

A nobreza de Quiron se reflete também na história da sua morte história: Quíron teria sacrificado sua vida, permitindo assim que a humanidade obtivesse o uso do fogo. Num intrincado jogo de fatos mitológios, que só lendo pra entender – ou não – Quiron trocou sua imortalidade pela liberdade de Prometeu, aquele pobre coitado que ousou roubar o fogo dos deuses e foi condenado a estar atado a uma pedra e ter o fígado devorado todas as noites por um pássaro, apenas podendo ser liberto se um imortal abrisse mão de sua imortalidade e fosse para o Hades – e olha só o quilate do nosso herói!

Quiron  era imortal, e fora ferido por uma flexa envenenada que o fazia sentir muita dor. Aí matou três coelhos com uma paulada só: indo para o Hades, aliviou sua própria dor, e libertou Prometeu e proporcionou aos pobres e reles mortais o uso do fogo! Daí existir a constelação de Sagitário (do latim sagitta, "flecha") em homenagem a ele.

E daí?... daí essa galera meio gente meio cavalo querer ser o melhor da espécie e manifestar, vez por outra, certi ímpeto de martír... daí todo sagitariano ser metido a quiron, mas no fundo bebedores, indisciplinados, delinqüentes, sem cultura... uns loucos (graças a Deus!). Voltando a pretensão quironiana, de ser o diferente e, disfarçadamente, superior... e lembrando de que o assunto da vez era relacinamentos... ih mas ainda não tinha dito isto... na verdade cortei lá do inicinho... papo de relacionamento é chato, tanto quento invevitável... E como não sei lidar com eles!!!

            Meu ser, sagitariano autêntico, integra a manada dos comuns com pretensões quironianas, talvez por tolice, sinto sempre que sou diferente.. e vou vivendo e vendo que todo mundo se julga um pouco assim, mesmo os que se dizem iguais...

Temos todos uma noçãozinha da eferemeridade da vida – e, eu, por decuidar tanto de mim, por tanto tempo, sinto a proximidade da morte – sofro de intensidades e vivo de sentimentos urgentes, a serem compartilhados, daí a necessidade de escrevinhar. Descreio da autosuficiencia. Afirmo que podemos ser independente em muitos aspectos, mas necessitamos imensamente de uma ajudinha pra sermos felizes e buscamos isso a todo momento. Momentos de solitude são legais, para pensar, sentir e escrever, mas necessitamos de companhia, necessitamos de amigos, necessito de amores – um de cada vez–, necessitamos de viver um grande amor! – E é assim mesmo, todos oscilamos entre o eu e o nós...

            Quando amo o mundo se resume ao ser que amo. Tudo de velho parece ter cara nova e é iluminado por uma luz azul divinamente brilhante. Não tenho, contudo, o desejo de aprisionar ou ser aprisionada. Desejo “apenas” voar junto, como duas borboletas sobre um imenso campo de flores, sabendo que cada uma verá as formas e as cores à sua maneira e, nesse voo conjunto, vão compartilhando visões e se maravilhando com a paisagem e que, naturalmente, por um momento ou outro, ambos empreenderão voos exploratórios em entros campos; mas, resistindo o encantamento que os une, voltarão a procurar-se, e nada será melhor que compartilhar paisagens guardadas no olhar – e isto não pode incluir traição!! Traição existe!!

            Visão bem romântica dos relacionamentos, mas tenho observado que é isso mesmo que a maioria de nós buscamos em nossos relacionamentos, é basicamente isso de que precisamos, com pequenas variações. Queremos a nossa alma gêmea, que nem sempre é idêntica, mas sempre complementar.

            Também sou um ser medroso e ciumento, mas quironianamente seguro e civilizado – quase sempre.  Passado os instingantes e felizes momentos inicias, os  quais na verdade eu desejo ardentemente que jamais passem, e pra mim nunca passam... até que seja obrigada a me desfazer deles... –, sigo minha velha tendência de esperar sempre o pior, por puro medo de me decepcionar... Pensando assim, minha ansiedade é incontrolável e, se precipito o pior, afirmo que aconteceria de todo jeito, mas será mesmo que aconteceria?! Pára com isso...

            Também sou ocupona... apesar de lutar para não invadir além da conta a vida e o tempo do ser amado... tenho muita pressa de descobrir coisas novas e redescobrir coisas velhas de novas maneiras... compartilhar, conhecer, criar, voar... correr de mãos dadas, andar na chuva... ler um livro com, ver um filme com, ir a um show com, dançar com, amar com, beijar com, abraçar o mundo com, compor versos e canções com... rir com... chorar com, se preciso for... construir e desconstruir com... – virtual e ou presencialmente... Sei que este entendimento quase não existe mais, então me pego a esperar  por outra vida, e nem creio em nova chance, não semelhante a que vivo agora... mas quem sabe... nesta tentaria ser apenas um poeta-pateta-ciclista...

            Toda a minha vida fui meio contemplativa, e mesmo nos meus momentos mais presentes, uma parte de mim voa por mundos e caminhos que eu queria desvendar, mas não posso... eu cuidei de mil pessoas, fiz mil coisa ao mesmo tempo – quase nada fiz direito –, descuidei de coisas importantes... descuidei principalmente de mim mesma, dos meus sentimentos... dos meus sonhos ainda luto pra lembrar...e agora, e sempre que estou feliz, tenho tanto medo de estar doente e de não ter mais tempo de me lembrar dos meus sonhos, e de amar o meu amor, e de esperar o que a vida tem pra mim, enquanto vivo intensamente o que a vida ora me dá.

Também tenho medo de médicos, prefiro um abraço demorado e curativo demorado, mas pode ser tão tarde... Posso eu mesma e o meu descuido ser responsável pela gradativa administração do meu próprio castigo, por ousar, depois de tanto tempo de quase inércia, ter coragem de me procurar, com a sensação de estar irremediavelmente perdida... ah como eu torço para viver muito...

            Eu não sei distinguir sonho de realidade. Vivo de amor tão imenso, tão intenso quanto leve... e sempre espero que o amor me leve. Quando estou acordada parece que a vida é um sonho, e, às vezes, quando adormeço, velhas realidades me visitam. É quando tenho certo medo ou vaga impressão de que o que vivo pode não ser de verdade... e o que é a verdade?? Talvez nem eu seja de verdade e a própria vida seja, em si, só um sonho... ou não sejamos mais que “um brinquedo de Deus...”

            Vejo as coisas complicadas de jeito muito simples e as coisas simples essencialmente incompreensíveis. Sou um ser contraditório... “humano demasiado humano”, como definiu Nietzsche.

**

Tava escrevendo isso, uma espécie de autoanálise, quando minha psicóloga me abandonou, voltando depois de um ano... e aí eu troquei a psicóloga por uma faxineira... agora sem psicóloga nem faxineira... a dois passos da loucura, distante do paraíso...  mas pra que ser normal??? O que eu quero é ser feliz!!!

  

2 comentários:

poetamaurilio disse...

Parabéns pelo texto.

Como bom sagitariano, adorei.
Saudações!

poetamaurilio disse...
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