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sexta-feira, 10 de julho de 2009

OLHOS DE SARUÊ

Anabe Lopes

Era uma noite serena
Veja só o que aconteceu
Já tarde me recolhendo
Meu entes queridos e eu
De repente lá no quintal
Um mistério sucedeu

Latia inquieta a Pretinha
No velho pé de mangueira
Corri lumiar com a lanterna
A fim de quebrar a cegueira
Em noite que é tão escura
Lampião, lamparina é pasmaceira

Dormia no alto da gaiada
Um casal de guarnizé
Que gente que vem da roça
Sabe o senhor como é
Sertão cravado no peito
Da roça só tira o pé

Pois tavam lá os bichinhos
Doidos a cacarejar
A gente espiava com jeito
E nada podia encontrar
Quando é fé, vi no cantinho,
Dois pontilhos clariar

Com pouco mais de vagar
Eis que vi aparecer
A coisa mais linda do mundo
Que bicho gente pode ver
Brilho, encanto e beleza:
Dois olhinhos do saruê

Do saruê do cerrado
Do plano-alto central
Que gente vem invadindo
Com fúria descomunal
Destruindo flora e fauna,
No próprio peito o punhal

Saruê ou guarnizé
Havia eu de escolher:
O que vive e o que morre
Oh tristeza, pense você!
Fiz assim minha opção
Nenhum dois dois vai morrer!

Olhem vocês meninada
O olhar deste bichinho
Que só quer sobreviver
Neste mundo tão mesquinho
Precisa se alimentar
E um pouco de carinho

Foi assim naquela noite
Resolvida a questão
Em meio a tanta agonia
Fizemos nossa opção
Protejam-se as penosas
Saruê não matem não!!

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