Pesquisar

domingo, 8 de setembro de 2013

Anabe Lopes

Quando o dia amanheceu,
A alegria, que já fazia ronda,
Não se fez de rogada...
Riu-se ruidosa ao meu lado
E revelou a poesia
Nova de cada nova manhã,
Por mais que se pareça
Com a manhã anterior
E por mais que se assemelhe
à manhã seguinte...
E, nesses momentos mágicos,
Pássaros sempre cantam...
E fomos todos
Tanto cantores quanto ouvintes
E a harmonia entrava
E saia de nossas transparências...
E eternamente, e sempre
até a manhã seguinte,
Houve paz
E éramos feitos de terra...
Roxa, pura e fértil...
Bastou comungarem-se
Chuva e sol da manhã
Para que vida, florescesse...
Roxa de amor!!!

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Exsaussurida

Anabe Lopes


Não quero mais entender Saussure
Antes, quero entender sussurros
Os seus 
Os meus
Dispersos... 
Nos ventos
Nas ondas do mar de pinheiros,
No mais simples dos versos
Em estradões, rios e trilhas
Nos rincões do universo
Na folha do coqueiro...
No céu azul submerso
Ou nas desconhecidas ilhas
... mas, antes ainda, e primeiro, o sussurro mudo
Dos sonhos do meu travesseiro
Mais antes ainda, e primeiro,
Os sussurros das dores de cada dia,
Os de prazer e os de alegria
Captar e transmitir amor...
Sussurrar surreal poesia!!



segunda-feira, 29 de julho de 2013

Tema antigo
Texto Anabe Lopes
Imagem: Internet


Às vezes estou no mundo, 
mas o mundo está distante de mim...
Uma espécie de visão micro-biológica...
dos arredores do vácuo...

Outras o mundo está perto;
eu, distante
escuto, mas não ouço...
enxergo, mas não vejo
e sinto minúsculo o corpo
- quando o mundo se perdeu dentro de mim -
e muito muito frágil...

talvez me sentisse assim quando criança...
Minha memória é fraca...
eu só sei sentir...

então me lembro de Carlos,
porque Carlos me revela o sentir
e me reintegro...

"Mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo,
isso seria uma rima
não uma solução" (Drumond de Andrade)





segunda-feira, 13 de maio de 2013

Sonho



Anabe Lopes

Esta noite sonhei que chovia
E o meu corpo cansado 
Respirava feliz a umidade da chuva
E o ar enchia todos os meus espaços
E me fazia um ser mais completo
Participante ativo da orla da poesia
E os meu olhos navegavam todo o mar adiante
E era para onde transportava a minha alma
E eu me cercava de peixes e algas
Golfinho e baleias dançavam ao meu redor
E então fui mais que uma mensagem na garrafa
Eu não apenas flutuava perdida nestes mares
Eu dançava sobre as águas...
Saibam, quem não viu,  que nesta noite choveu!
Sonhei que amava...



Imagens da internet

terça-feira, 7 de maio de 2013

Aviso aos navegantes

Anabe Lopes

Às vezes fujo de mim
Outras fujo pra ser eu
Vou da escuridão ao claro
Navego do claro ao breu
E nem sei bem desde quando,
Nem de como aconteceu...
Se o meu coração despertou
Ou se de fato adormeceu ...




quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

O dia em que o mundo derreteu


Anabe Lopes

        O dia amanheceu como todo dia: muito igual com algo de diferente...
        Havia uma semana não se viam; há dois dias se convencia de que a única saída, a mais digna, era conceder-lhe, passivamente, o inegável direito de fugir.
Acordou meia hora mais tarde que o habitual, em decorrência das três gotinhas milagrosas que a fizeram dormir, mentalizou a frase dos AA (Apaixonados Anônimos): Hoje não vou chorar.
O pescoço doía-lhe um pouco. Alongou. Deitou-se novamente mais alguns minutos. Quase chorou. Repetiu a frase mágica. Levantou-se.
Lá fora o sol, insuspeito, brilhava como de costume em dias de final de inverno.
Mal deu os primeiros passos e notou que algo estranho acontecia ao redor, ou seriam seus olhos represados? A parede, os quadros da parede, as fotografias do mural... tudo ao redor parecia meio... líquido, enquanto seus gritos internos de “Hoje não vou chorar” enrijecia-lhe o coração.
Dirigiu-se ao banheiro e, ao escovar os dentes, notou que o metal da torneira escorria junto com a água. Mal pode concluir a escovação... a escova foi pelo ralo segundos antes de o próprio ralo ir pelo ralo.
Malgrado o susto, a calma e a frase ainda se mantinha. Vestiu-se e foi para a rua.
A frase soava-lhe alta, soava-lhe firme, soava-lhe forte.
A rua também não estava normal, mas não havia dor... apenas ecoava a frase: Hoje não vou chorar!
        Tentou pegar sua bicicleta e ir pedalando para o trabalho. Ao tocá-le sentiu que ela também se liquefazia... foi à pé. Tocou rapidamente o último girassol, e a flor se desfez, escorrendo de suas mãos frágeis. Uma mulher velha passeava por entre líquidos canteiros, com pontos coloridos a se misturarem no líquido marrom... sorriu ela, que se desmanchou com o último sorriso. Voltou-se pra dentro de si. Notou que todos os seus amores, lembranças, afetos, sonhos e desejos se derretiam... lentamente. Parou num café e pediu um chocolate quente...
Derreteu-se a xícara o chocolate escorreu sobre o balcão que escorria pelo chão que parecia agora criar uma camada líquida que misturava um pouco de tudo: metal, porcelana, plástico, carne humana... arrastava passos pastosos...
Tudo o que conseguia pensar era “Hoje não vou chorar", ainda que o mundo se derreta...

Dois milênios depois, quando os Venuzianos vieram explorar o planeta, não havia nada além de uma crosta estranha que remetia a um tempo em que tudo se tinha... derretido e era como se o planeta todos houvesse sido lavado por um grande rio... E num, ponto do planeta, apenas uma objeto se destacava, seria uma pedra? Concluíram que sim... era mesmo uma pedra. Ela era muito dura, a única coisa que não derretera.
Era pontuda numa das extremidades achatada na outra, de cor vermelho escuro, com alguns pontos bem pretos e pequenos veios nas superfícies pétreas. Na parte achatada resquícios de dois largo tubos, com as extremidades derretidas e a base empretecida... um passo adiante uma inscrição na superfície derretida e solidificada... Com letras meio escorridas ... “Hoje não vou chorar”.