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segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Tonga da Mironga do Cabuletê

Toquinho e Vinicius de Moraes

Eu caio de bossa eu sou quem eu sou
Eu saio da fossa xingando em nagô
Você que ouve e não fala / Você que olha e não vê
Eu vou lhe dar uma pala / Você vai ter que aprender
A tonga da mironga do cabuletê
A tonga da mironga do cabuletê
A tonga da mironga do cabuletê
Você que lê e não sabe / Você que reza e não crê
Você que entra e não cabe / Você vai ter que viver
Na tonga da mironga do cabuletê
Na tonga da mironga do cabuletê
Na tonga da mironga do cabuletê
Você que fuma e não traga / E que não paga pra ver
Vou lhe rogar uma praga / Eu vou é mandar você
Pra tonga da mironga do cabuletê
Pra tonga da mironga do cabuletê
Pra tonga da mironga do cabuletê



1970 - Vinícius e Toquinho voltam da Itália onde haviam acabado de inaugurar a parceria com o disco “A Arca de Noé”, fruto de um velho livro que o poetinha fizera para seu filho Pedro, quando este ainda era menino.

Encontram o Brasil em pleno “milagre econômico”. A censura em alta, a Bossa em baixa. Opositores ao regime pagando com a liberdade e a vida o preço de seus ideais. O poeta é visto como comunista pela cegueira militar e ultrapassado pela intelectualidade militante, que pejorativa e injustamente classifica sua música de easy music.


No teatro Castro Alves, em Salvador, é apresentada ao Brasil a nova parceria.
Vinícius está casado com a atriz baiana Gesse Gessy, uma das maiores paixões de sua vida, que o aproximaria do candomblé, apresentando-o à Mãe Menininha do Gantois. Sentindo a angústia do companheiro, Gesse o diverte, ensinando-lhe xingamentos em Nagô, entre eles “tonga da mironga do cabuletê”, que significa “o pêlo do cu da mãe”.

O mote anal e seu sentimento em relação aos homens de verde oliva inspiram o poeta. Com Toquinho, Vinícius compõe a canção para apresentá-la no Teatro Castro Alves.

Era a oportunidade de xingar os militares sem que eles compreendessem a ofensa.

E o poeta ainda se divertia com tudo isso: “Te garanto que na Escola Superior de Guerra não tem um milico que saiba falar nagô”.



Fonte: Vinicius de Moraes: o Poeta da Paixão; uma Biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.
Enviadi por Rego Júnior

domingo, 2 de janeiro de 2011

De orquídeas e amor




pois é... No meio da alegria do reveillon lá estava eu... inquieta e dançando compulsivamente. Danço compulsivamente... até hoje não entendo como as pessoas conseguem ficar imóveis ao som de uma orquestra, de uma balada, de um forró ou de um roque, de um samba!!! A música balança a minha alma e o meu corpo, quase involuntariamente, começa a se mexer... Ainda bem que existe Dorflex...

...como eu ia dizendo, no meio da dança, entre bons e velhos amigos que não envelhecem nunca - como a verdadeira amizade nunca envelhece -, entre alegres desejos de FELIZ ANO NOVO, o Chiquinho me fala: – Feliz Ano Novo e muita paz... e amor também. Diminuí um pouco o ritmo e, meio sem pensar, falei: Muito mais amor que paz!!! Um não acompanha o outro? – ele replicou. Aquele não era o momento de pensar... assenti e voltamos a nos entregar à dança.
Mas hoje, primeiro dia de um ano novo qualquer, desejando a mim mesma mais amor que paz, deixo-me seduzir pelo desejo de falar um pouco sobre paz e amor caminharem sempre juntos, já que este assunto ficou, na minha cabeça, como uma melodia a pedir que lhe façam uma letra.

A vida demonstra que o amor, correspondido ou não, não traz sempre paz. Ele pode mesmo atirar a paz contra a parede. Em suas variadas formas, o amor pode e costuma trazer sofrimento: incertezas, ciúmes, angústias, vulnerabilidades... desejos ardentes, preocupações com o ser amado (filho, pais, mãe, amigo, amante...). O amor traz "urgências a serem atendidas".

Imagino que seja por causa de tais sofrimentos e trabalhos que muitas pessoas erguem barreiras contra o amor, para tentar “viver em paz”. Passam a dizer e quase acreditar – e algumas até acreditam – que "amor é coisa que não existe", "não este amor que faz uma pessoa querer ardentemente estar com a outra e ser capaz de mudar os rumos da própria vida, para estar ao lado da sua 'alma gêmea' ou coisa assim... " –  ouvi dizerem.

Não sei filosofar muito sobre amor. Não sei filosofar. Sei que sei amar! Acredito no amor intenso e eterno - "enquanto dure" _. Por não durar a vida inteira, um amor não deixa de ser ou ter sido verdadeiro. Tudo o que é vivo pode morrer. Alguém um dia disse que o amor é como uma planta, e nunca mais esta verdade parou de ser dita. Verdades muito ditas correm o risco de serem ainda menos compreendidas.

Dizem que "o amor é uma flor roxa que nasce no coração dos trouxas". Para mim, o amor é uma orquídea. Mesmo que não floresça todos os dias, as orquídeas são exóticas e muito interessantes. Também o amor é assim: nem sempre florido, mas muito exótico e interessante. Os amantes são jardineiros, logo, responsáveis por manter vivo e viçoso o amor.

Para cultivar uma orquídea, o jardineiro tem de estar atento às variações de clima e temperatura, controlar a incidência de sol e de vento e combater fungos e pragas que querem, a todo tempo, destruir-lhe a beleza e envenenar-lhe a seiva. É preciso também renovar periodicamente o substrato da planta e ainda pulverizar-lhe regularmente as folhas e as raízes. Tudo na medida certa. A vida dos jardineiros não é só flores... mas quando um orquídea floresce a fruição se completa...

Orquídeas são plantas aéreas. Devem ser fixadas no alto e suas raízes devem estar livres, para que possam retirar os nutrientes de que precisam para sobreviver. O substrato natural do amor é o carinho, o cuidado, a atenção, que se materializam, principalmente, no respeito ao ser do outro, mas a palavra natural faz toda a diferença... Cada amante tem idéias, sentimentos, sonhos, talentos... desejos íntimos que também precisam florescer nos seus corações. Permitir e incentivar a expansão do ser de cada um é arejar as raízes do amor e fortalecer a florada que se anuncia. As orquídeas respiram pelas raízes.

Dizem que, se bem cuidada, uma orquídea é eterna.